sábado, 14 de maio de 2005

Aquarela da vida

A vida é inconstante. Não adianta planejar, pensar nas coisas certas pra dizer no momento oportuno, porque ele não chega. O momento certo é agora, e a coisa certa é aquela que você sente. Reprimir vontades, desejos e sonhos só tem um resultado: frustração, e dessa não quero padecer.
Tentar pilotar o futuro pode dar certo, mas de repente algo muda sem pedir licença, e você terá que escolher entre rir ou chorar.
Não tem jeito: uma hora as coisas vão descolorir, e repintar não será uma opção. Então, aproveite cada paisagem, cada desenho e cada pintura que se colocar a sua frente. Faça parte de cada uma delas, e quando tudo desbotar, você terá vivido.

Aquarela (Toquinho e Vinícius de Moraes)

"Numa folha qualquer eu desenho um sol amarelo
E com cinco ou seis retas é fácil fazer um castelo
Corro o lápis em torno da mão e me dou uma luva
E se faço chover, com dois riscos tenho um guarda-chuva
Se um pinguinho de tinta cai num pedacinho azul do papel
num instante imagino uma linda gaivota a voar no céu
Vai voando, contornando a imensa curva Norte e Sul
Vou com ela viajando Havaí, Pequim ou Istambul
Pinto um barco a vela branco navegando,
é tanto céu e mar num beijo azul
Entre as nuvens vem surgindo um lindo avião rosa e grená
Tudo em volta colorindo, com suas luzes a piscar
Basta imaginar e ele está partindo, sereno e lindo
e se a gente quiser ele vai pousar
Numa folha qualquer eu desenho um navio de partida
com alguns bons amigos bebendo de bem com a vida
De uma América a outra consigo passar num segundo
Giro um simples compasso e num círculo eu faço o mundo
Um menino caminha e caminhando chega no muro
e ali logo em frente a esperar pela gente o futuro está
E o futuro é uma astronave que tentamos pilotar
Não tem tempo nem piedade nem tem hora de chegar
Sem pedir licença muda nossa vida,depois convida a rir ou chorar
Nessa estrada não nos cabe conhecer ou ver o que virá
O fim dela ninguém sabe bem ao certo onde vai dar
Vamos todos numa linda passarelade uma aquarela que um dia enfim
descolorirá
Numa folha qualquer eu desenho um sol amarelo (que descolorirá)
e com cinco ou seis retas é fácil fazer um castelo (que descolorirá)
Giro um simples compasso e num círculo eu faço o mundo (e descolorirá)"

Não tenha medo da morte, e sim da vida não vivida.

segunda-feira, 9 de maio de 2005

Socorro!

Cadê a coragem quando preciso dela, a sinceridade que tanto prezo quando ela seria a simplificação da minha vida? Onde estou que sei o que quero mas não digo? Por que o medo?
Sempre faço a vida parecer simples quando alguém me pede ajuda, mas a verdade é que sou uma mentirosa, porque a vida não é simples! Não é fácil sofrer, não é comum esperar e é terrível ficar com as coisas guardadas só para mim, quando na realidade o que queria mesmo era gritar aos 4 ventos...
Não sou tímida, já quebrei a cara (mais de uma vez) e em nenhuma dessas vezes fui fraca e covarde, então por que agora?
Cheguei à conclusão (talvez idiota) que quebrar a cara é simples, porque todas as vezes que isso me aconteceu não era de verdade, ou melhor, foram reais, mas o quebrar a cara valia mais que o arrependimento, porque o valor que as coisas tinham não eram tão significantes. Só que agora é...
Como ser sincera, esquecer dos medos e das fraquezas quando o que está em jogo é algo que pode me deixar nas nuvens ou no limbo? Talvez o limbo fosse melhor que a batalha que travo comigo mesma e eu devesse arriscar, mas só se arrisca e aposta em jogos, e não quero jogar, não agora, nessa situação. Tenho diversos adversários, alguns quase imbatíveis, que só poderão ser vencidos pelo cansado, pela desistência, mas isso demora e eu já esperei muito...
SOCORRO! Quanto tempo falta?

Timidez

"Basta-me um pequeno gesto,
feito de longe e de leve,
para que venhas comigo
e eu para sempre te leve...

- mas só esse eu não farei.

Uma palavra caída
das montanhas dos instantes
desmancha todos os mares
e une as terras mais distantes...

- palavra que não direi.

Para que tu me adivinhes,
entre os ventos taciturnos,
apago meus pensamentos,
ponho vestidos noturnos,

- que amargamente inventei.

E, enquanto não me descobres,
os mundos vão navegando
nos ares certos do tempo,
até não se sabe quando...

- e um dia me acabarei."

(Cecília Meireles)